Resultados do primeiro semestre garantem firmeza dos preços do arroz
Antecipação das compras, aumento do consumo e ótimo volume de exportações garantiram, até agora, um cenário de preços firmes
Um cenário de preços que começou em 2019 com bom volume de exportações e expectativa de uma safra menor de arroz, associado a um 2020 em que o câmbio favorável e a pandemia do novo coronavírus intensificaram as relações de consumo e comerciais externas, vem consolidando um cenário de preços firmes ao longo do ano. O primeiro semestre encerrou com as cotações do arroz em crescimento, previsão que deve se manter pelo menos até agosto e pode ir bem mais adiante em função não apenas das boas vendas internacionais, mas principalmente pelo ajustado quadro de oferta e demanda do Brasil.
Números divulgados esta semana da balança comercial e dos quadros de safra e de oferta e demanda interna, corroboram estas informações. O primeiro deles foi a confirmação de que o Brasil alcançou um recorde mensal de embarques de arroz para o mercado internacional em junho, com 316,5 mil toneladas, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Com isso, no primeiro quadrimestre do ano comercial 2020/21 (que começou em março de 2020 e vai até fevereiro de 2021) a cadeia produtiva brasileira já exportou praticamente 800 mil toneladas, mais da metade do previsto para o ano pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As importações seguem em baixa, com 76,6 mil toneladas adquiridas no mês, somando 320 mil no quadrimestre. O saldo da balança comercial de março a junho beira 420 mil toneladas.
A relação entre o dólar, os preços internacionais, o lockdown na Ásia no final de março e início de abril, a demanda de pânico pelos países importadores e a coincidência com a falta de capacidade de realizar novas vendas pelos Estados Unidos contribuíram de forma determinante para os bons resultados brasileiros, que exportou nestes quatro meses para 103 países diferentes. Isso mostra, também, que além da conjuntura muito favorável, o Brasil vem fazendo um excelente trabalho de prospecção e fidelização de clientes no cenário global.
A expectativa é de que o Brasil exporte mais de 150 mil toneladas em julho, agregando valores não computados do final de junho, pelo menos cinco barcos já previstos na Line Up de Rio Grande, o embarque de contêineres em Santa Catarina e novas confirmações de embarque que podem ocorrer ao longo do mês. A Venezuela, por exemplo, tem cargas compradas, mas está com os embarques atrasados e poderia confirmar dois barcos de grão em casca ainda para julho.
SAFRA
Diante deste cenário, nem mesmo a confirmação de que o Rio Grande do Sul e Santa Catarina colheram uma safra bem maior do que o previsto, alterou o panorama do mercado. Com o consumo interno e externo aquecido, a diferença de 600 mil toneladas já foi absorvida e até será fundamental para o equilíbrio no estoque de passagem. Nesta quarta-feira, a Conab divulgou o levantamento da safra de grãos de verão, ampliando números de produção, o estoque inicial, as exportações e a previsão de estoque final, em fevereiro de 2021. No entanto, o mais importante dos números ilustrados no levantamento é a confirmação de que, também para o governo, o quadro de oferta e demanda permanece muito ajustado para o segundo semestre.
A Conab estima, agora, uma colheita nacional em 11,168 milhões de toneladas nesta temporada – contra 10,5 milhões do início do ano – com um aumento de 6,5% no volume colhido, apesar de uma redução de mais de 35 mil hectares na área total. A produtividade em elevação de quase 9% foi fundamental para os números serem alcançados. O Rio Grande do Sul reduziu em 5,5% a área, mas aumentou em 6,5% a produção, para 7,867 milhões de toneladas, apenas 27 mil toneladas acima dos números finais do Irga. Em Santa Catarina a produção foi ampliada em 7,3%, ou 82 mil toneladas, para 1,212 milhão.
Ainda assim, esta será a terceira safra consecutiva cm expectativa de redução no estoque de passagem. A companhia ajustou o quadro de oferta e demanda, com o estoque inicial em 2020 passando de 512 mil para 554 mil toneladas, a produção aumentando 42 mil toneladas e o estoque final passando de 438 mil para 522 mil toneladas. No entanto, vários analistas e representantes da cadeia produtiva acreditam que o Brasil, nos próximos oito meses, poderá dobrar o atual volume de exportação.
Portanto, ainda que se espere um mercado um pouco mais travado no segundo semestre, por conta da entrada de uma grande safra dos Estados Unidos e o aumento da disputa por espaço nos mercados externos e interno do Brasil com o Mercosul, o que também dependerá muito do câmbio, a expectativa é de relativa firmeza nos preços. Sem dúvida, o cenário externo será fortemente impactado e o novo patamar de preços será testado muitas vezes pelo varejo, o consumidor e as tradings. A expectativa de aumento da área plantada também deverá gerar reflexos nos preços. Ainda assim, o estoque final previsto e a relação de oferta bastante enxuta, é fator de relativa estabilidade se os números oficiais se consolidarem.
Diante desta conjuntura, os preços do indicador Esalq/Senar-RS para o arroz em casca no Rio Grande do Sul, saca de 50 quilos (58×10), à vista, posto na indústria, renovaram o recorde nominal nesta quarta-feira, dia oito de julho, a R$ 63,21, acumulando 0,7% de valorização e equivalendo a US$ 11,83 pelo câmbio do dia.
Os preços médios nominais do arroz em casca em junho deste ano foram os maiores da série histórica do Cepea, iniciada em 2005 – de janeiro a junho de 2020, as cotações médias ficaram superiores em 31,2% à média do mesmo período de 2019.
Em junho, o valor médio do Indicador ESALQ/SENAR-RS, 58% grãos inteiros (média ponderada) ficou em R$ 61,92/sc de 50 kg, 2% superior ao de maio/20. Em relação a junho/19, o aumento é de expressivos 40,80% (R$ 43,98/sc).
Os valores regionais também foram recordes: na Depressão Central, Campanha, Fronteira Oeste, Planície Costeira Externa e Interna e Zona Sul, fecharam com média de R$ 58,72/sc, R$ 58,81/sc, R$ 61,30/sc, R$ 63,34/sc, R$ 63,67/sc e R$ 64,88/sc, respectivamente, em termos nominais.
A conjuntura estabelecida pelo quadro de oferta e demanda bem ajustado, mantém os preços ao produtor com firmeza no Rio Grande do Sul. Os grandes produtores, que ainda têm produto em casca estocado, mais capitalizados, estabeleceram um piso de R$ 70,00 para venda, tendo como referência o arroz em casca, 58% de inteiros, colocado no porto de Rio Grande. Com isso, as grandes indústrias saem para fazer posição e acabam pagando este valor, bem como as tradings.
Mas, o mercado interno, apesar de algum avanço nos patamares de preços, não comporta estas referências para todo mundo, em especial as pequenas empresas com maior dependência do capital de giro e da boa vontade dos compradores. Pelotas e Camaquã, dois polos regionais fortes da indústria, operam com preços referenciais ao redor de R$ 68,00 (R$ 70,00 no porto menos frete) e na Fronteira-Oeste o produto livre tem referência de R$ 63,00 e para liquidação, na indústria, a R$ 60,00. A Região Central paga entre R$ 59,00 e R$ 60,00, descontadas as taxas e tributos.
VAREJO
Os preços no varejo seguiram em alta, assim como o produto em casca. Dados do IBGE para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) apontaram que nos últimos 12 meses, a variação do Índice quanto ao arroz acumula aumento de 11,06% na média nacional, oscilando entre 5,47% e 16,09% entre as 11 regiões metropolitanas consideradas pelo IBGE. Os dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo DIEESE, indicaram que os preços do conjunto de alimentos básicos, necessários para as refeições de uma pessoa adulta durante um mês, diminuíram em 10 capitais pesquisadas, incluindo as três do Sul e as quatro do Sudeste. Em outras sete cidades, os custos apresentaram alta em relação a maio.
Em São Paulo, a cesta custou R$ 547,03, com variação negativa de -1,68% na comparação com o mês anterior. No ano, o conjunto de alimentos aumentou 8% e, em 12 meses, 9,04%.
O preço médio do arroz agulhinha ficou mais alto em 15 capitais, com destaque para Campo Grande (13,82%) e Rio de Janeiro (11,14%). Em São Paulo, o aumento foi de 5,76%. A alta deve-se à desvalorização cambial e à maior demanda, no início da pandemia.
Fonte: ANÁLISE DE MERCADO – por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados – Planeta.
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