Nunca o mercado de arroz esteve tão bom para os produtores
Com oferta ajustada à demanda e dólar favorável às exportações, a pandemia potencializou o consumo do grão e impulsionou os preços em plena colheita, mas o varejo já retomou as promoções
A conjuntura formada pelo quadro de oferta e demanda de arroz mais ajustado nesta temporada no Brasil, o dólar valorizado dando suporte às exportações, países exportadores com restrição de vendas e importadores ávidos, somada às compras de pânico – gerada pela quarentena ocasionada pela pandemia do Covid-19 – criaram um cenário completamente atípico para o setor em plena colheita. Esta semana foi marcada por cotações muito firmes no Rio Grande do Sul, com trajetória altista, em contraponto à retração dos preços no varejo.
O que se nota é uma disputa entre o mercado interno – pela antecipação e até aumento dos volumes adquiridos pelos consumidores e supermercados – e o externo, com tradings agindo de forma mais agressiva, enquanto os agricultores definiram o patamar de venda em R$ 60,00 na Zona Sul e R$ 55,00 livres na Fronteira Oeste para as variedades comuns (58×10). Quem quer comprar, precisa pagar este valor ou muito próximo.
Entre vender de R$ 52,00 a R$ 55,00 e R$ 60,00 no porto, o que garante um mercado interno ainda mais ajustado no futuro, não há dúvidas para o arrozeiro que viu, em 14 safras, cinco apenas com lucro considerando as médias do custo de produção, de produtividade e de preços, certo?
PRESSÃO
Se a demanda ajudou a reduzir a ociosidade de quase 50% das indústrias nacionais, por outro lado todo esse cenário impôs forte pressão às indústrias, que precisaram antecipar entregas e necessitam ir ao mercado se abastecer de matéria-prima para atender ao grande volume de pedidos em carteira. Muitas empresas ampliaram turnos e contrataram, pois além de operar a todo o vapor no beneficiamento, precisaram adequar a estrutura de recebimento da colheita, que graças à forte estiagem no Sul do Brasil, não foi interrompida em nenhum momento. Ao contrário de uma condição normal de colheita, muitas empresas precisaram atuar praticamente a pleno “nas duas pontas”, recebendo, processando e enviando.
Ao mesmo tempo, os engenhos enfrentam as dificuldades logísticas, com algumas firmas de maior porte precisando pagar fretes de retorno aos transportadores para garantirem os prazos. E os custos – inclusive o de ampliação dos sistemas de armazenagem de atacados e redes varejistas com aluguéis de galpões – precisam ser repassados ao longo da cadeia produtiva. E chegaram. No momento de mais intensas compras, entre 16 de março e 5 de abril, estima-se que o mercado “rodou” o equivalente a dois meses e meio do movimento normal.
MOMENTO
O produtor gaúcho jamais teve um momento tão positivo. Alta significativa das cotações em plena colheita, forte consumo, disputa pelo seu produto por parte dos diferentes segmentos – até os derivados como farelo e quebrados estão valorizados pela demanda maior de tipos 3 e 4 para cestas básicas, pelas exportações e para ração animal, uma vez que a quebra nas safras de soja e milho são altas no Rio Grande do Sul. Alia-se a isso uma safra de alta produtividade e qualidade de grão e colheita constante, com tempo firme e seco. Hoje, o produtor de arroz pode escolher para quem vender. As indústrias de fora do estado também estão ativas, pressionando ainda mais as cotações.
PONTOS A OBSERVAR
No entanto, há fatores que precisam ser avaliados com maior atenção. Há semanas tenho frisado que poderemos, por essa conjuntura, alcançar os tetos de preços neste primeiro semestre em função da atipicidade do momento. A antecipação do consumo tende a apresentar um “efeito rebote” mais à frente. A pesquisa semanal feita com redes de varejo das principais capitais do país pela AgroDados/Planeta Arroz demonstra que depois de o pacote de 5 quilos do arroz branco, tipo 1, ter alcançado médias entre R$ 18,00 e R$ 20,00 e mais de R$ 4,00 nos pacotes de um quilo, as cotações voltaram a se acomodar entre R$ 16,00 e R$ 18,00/5kg e R$ 3,00 a R$ 3,50/kg. Ainda está mais valorizado do que um ano atrás, em torno de 25%.
Com a garantia de abastecimento, programação de entregas, limitação de volumes de vendas e gôndolas que raramente ficaram com pouco produto, o varejo voltou às ofertas. Já se encontra pacotes de 5 quilos, Tipo 1, branco ou parboilizado, a R$ 11,90 em quase todas as capitais e no interior do Rio Grande do Sul, e pacotes de quilo a R$ 2,48 são bastante frequentes nos encartes dos supermercados. O fardo ainda está em elevação pela conjuntura já explicada – evolução dos preços da matéria-prima e dos custos logísticos, principalmente, mas já com resistências entre os grandes varejistas e queixas que chegaram ao governo federal.
O consumidor foi às compras de forma mais agressiva entre 16 de março e cinco de abril, como citei antes. Aproveitou salários, a “virada” do cartão de crédito, indenizações, saques do FGTS e estocou alimentos. Com a volta das rotinas do comércio em boa parte das cidades e estados brasileiros, e o meio de mês, a tendência é de que os preços se mantenham equilibrados no varejo e comecem a “trancar na ponta”, a menos que haja uma explosão da escalada de contágios pelo novo coronavírus, que obrigaria a um novo e mais efetivo isolamento social, e a mais compras de pânico, que seriam municiadas pelas famílias de baixa renda também pelo auxílio-social do governo.
ABASTECIMENTO
Confiando num cenário mais positivo em relação à saúde pública, a volta à rotina tende a encontrar o mercado do arroz numa situação de abastecimento: consumidores com estoques maiores e antecipados, supermercados também, restaurantes, merenda escolar com os estoques anteriores à pandemia e a indústria menos demandada. Numa projeção dessas, fatalmente os preços ao produtor serão atingidos. É a famosa “ressaca” de que tenho falado. E ainda teremos, pela frente, a recessão e o desemprego causando um choque na economia.
Mesmo com a previsão de um pequeno aumento do consumo causado pelas compras emergenciais, a expectativa – exceto por um recrudescimento da escalada de óbitos e infecções da pandemia –, com base no cenário atual, aponta para a necessidade do Brasil manter o equilíbrio de suas exportações para assegurar preços ao produtor superiores às médias dos últimos anos.
Seja pela proposta de tornar-se um player mundial, seja pela consolidação de mercados já atendidos, o país precisa, nestes meses, demonstrar compromisso, estabilidade de oferta e conquistar confiabilidade junto aos seus clientes, uma vez que temos autossuficiência nesta colheita e importamos anualmente um milhão de toneladas, em média, ou seja, temos um suprimento que nos possibilita exportar sem risco de desabastecimento interno.
Ainda assim, polêmicas dentro do próprio setor colocaram os radares dos Ministérios da Agricultura e da Fazenda sobre o arroz, com preocupações sobre a capacidade de abastecimento – que não dependerá só do produtor ou da indústria, mas das variáveis e dos fundamentos de mercado e logística. O governo brasileiro entende que o quadro de oferta e demanda bastante ajustado – e a pressão do varejo por uma garantia de abastecimento – exigem um monitoramento. Por ora, não preocupa.
Outra ameaça velada é a de alguns posicionamentos políticos favoráveis à ampliação dos estoques públicos de gêneros da cesta básica, um problema do qual o país se livrou na última década, pois acabava carregando em seus armazéns, e com custo altíssimo, os excedentes do Mercosul. E quando os preços aos produtores começavam a se recuperar, o governo jogava os estoques no mercado e a oferta derrubava novamente as cotações – muitas vezes abaixo do nível de custos de produção.
Entretanto, para o governo comprar grão em casca para estocar, precisaria que o mercado baixasse até os preços mínimos ou alterasse as normas desta política por meio de nova legislação. Quem, com o preço de mercado acima dos R$ 55,00, teria interesse de vender arroz ao governo por R$ 39,63?
Leilão de compra de sete mil toneladas de arroz beneficiado que seria promovido pela Conab, na última quinta-feira, foi suspenso minutos antes da operação. Os agentes de mercado sugeriram alterações e o governo deve editar novas normas. Com grande demanda, a indústria também não se mostrou tão interessada.
INDICADOR
O Indicador de Preços do Arroz em Casca Esalq/Senar-RS alcançou preços médios de R$ 55,15 no Rio Grande do Sul, com valorização acumulada de 6,22% no mês. Em dólar, pela equivalência à cotação desta sexta-feira, dia 17, chegou a US$ 10,52. Se em moeda brasileira é um preço atrativo e que supera os custos de produção – dependendo da fonte – de boa parte dos agricultores, em dólar está dentro da média dos últimos anos, e segue sendo competitivo pela alta das cotações do comércio internacional.
SAFRA
O Irga divulgou na quinta-feira, 16, que a colheita já chegou a 81,5% da área semeada, somando 762 mil hectares. Segundo produtores, técnicos e indústrias a qualidade de grãos é muito boa, exceto em algumas faixas das lavouras plantadas mais cedo – que pegaram o frio do Carnaval na floração e tiveram o manejo dificultado nas enchentes de outubro onde foram identificados maiores volumes de grãos quebrados. Ainda assim, na Fronteira-Oeste, como foram as primeiras lavouras a serem colhidas, a comercialização foi realizada a preços favoráveis. Esse perfil tem sido notado principalmente na Região Central, Planície Costeira Interna e parte da Campanha.
A produtividade média alcançada até agora está acima de 8,5 mil quilos por hectares. Com 94% das lavouras colhidas, a Fronteira Oeste alcança média de 9,2 mil quilos por hectare. Projetando uma retração produtiva das áreas faltantes para serem colhidas, e uma média de 8.150 no Estado – puxadas para baixo pela Região Central e Planície Costeira Interna -, a colheita gaúcha deve confirmar um aumento sobre o ano passado e alcançar de 7,6 a 7,7 milhões de toneladas em base casca, 300 mil toneladas acima do esperado, o que poderá ser providencial para o momento e para atender aos mercados mais demandantes.
TENDÊNCIAS
A próxima semana será de monitoramento do preços e do consumo, com as cotações aos produtores sendo determinada pela disputa pelos mercados interno e externo e o varejo verificando “a febre” do consumidor. Acima deles, o governo observando os movimentos. Inicialmente é de se esperar firmeza nas cotações da matéria-prima, acomodação no varejo e uma tomada de decisão dos supermercados sobre os estoques da virada do mês. A partir de terça-feira tudo deve ficar mais claro. Fonte: ANÁLISE DE MERCADO – por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados – Planeta Arroz.
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