Mercado de Arroz: O arroz chegou ao teto de preços?
Comportamento distintos nos fatores fundamentais indicam que limite superior de preços está próximo e a queda de braços entre os diferentes elos da cadeia produtiva se tornará mais forte até que um lado ceda
A relação entre a oferta e a demanda no mercado interno brasileiro está sendo o fator fundamental de elevação dos preços ao produtor de arroz e ao longo da cadeia produtiva. As cotações deram um salto na última semana, graças à retenção da oferta por parte dos agricultores e uma demanda inesperada de empresas de fora do Rio Grande do Sul (mineiras, paulistas e catarinenses), e o mercado realizou operações na faixa de R$ 73,00 (livres) no Litoral Norte e Zona Sul, a R$ 70,00 na Fronteira Oeste, e a pedida dos rizicultores subiu para R$ 75,00 a R$ 80,00 quando se trata de maior volume e padrão mais elevado de qualidade de engenho/inteiros.
Os R$ 73,00 eram a referência de abertura da última semana na Planície Costeira Externa para variedades nobres, acima de 63% de inteiros, até que as indústrias mais ao centro do país entraram pagando o mesmo valor “a varrer”, ou seja, para variedades “comuns” e percentual de inteiros de 58/59% acima. Isso elevou as variedades nobres para pelo menos R$ 75,00 de referência.
“Esta ação deu uma mexida forte no mercado. O produtor que vende arroz no segundo semestre é mais organizado, em geral está capitalizado e opera com um portfólio maior de produtos, como boi e soja. Este, via de regra, pode segurar um pouco mais e entrar nessa queda de braço com a indústria, principalmente as de menor porte, que se quiserem ou precisarem comprar neste momento, terão que desembolsar o que o arrozeiro pede ou muito próximo disso. Por esta razão a comercialização travou bastante na reta final do mês”, assegura o analista Cleiton Evandro dos Santos, da AgroDados Inteligência em Mercados de Arroz e Planeta Arroz.
O fenômeno observado no Rio Grande do Sul se refletiu no restante do país. “As cotações subiram para o arroz de 55/57% no Mato Grosso, para valores entre R$ 85,00 e R$ 88,00 por saca de 60 quilos, enquanto no Tocantins bateram em R$ 83,00 a R$ 85,00”, frisa. Em Santa Catarina, que tem dois mercados distintos no Norte e no Sul, as cotações não diferiram muito. “Ainda que o Sul tenha cotações referenciais na faixa de R$ 65,00 e o Norte em R$ 68,00, os produtores estão pedindo R$ 75,00 e tem indústria pagando por isso. Quando as primeiras indústrias catarinenses, mineiras e paulistas se dispuseram a pagar R$ 73,00, livre, no Litoral Norte gaúcho, abriram a porteira e imediatamente o mercado refletiu essa demanda”, ilustra.
Ele acredita que o espaço para elevação nas cotações não é muito grande, e o limite superior é próximo, e este cenário vai depender bastante da dimensão da oferta e do quanto o varejo e o consumidor estiverem dispostos a pagar pelo arroz nas gôndolas.
“De um lado temos uma oferta muito restrita e o produtor sentado sobre as disponibilidades, mas de outro começam a pesar fatores muito potentes como um avanço menor e mais lento dos preços no varejo, a quase inviabilidade do país em exportar – com a matéria-prima nestes patamares, preços externos em queda e o dólar praticamente estabilizado no patamar de R$ 5,10 a R$ 5,30 – e o retorno da atratividade das cotações para importar arroz em casca e beneficiado do Paraguai, Argentina e Uruguai”, observa.
Santos enfatiza, porém, que há algumas variáveis que podem determinar um futuro de “eletrocardiograma” nas cotações, estabilidade ou até avanço da demanda mesmo com preços maiores pela matéria-prima no Brasil. “As disponibilidades do Mercosul são baixas, neste momento, e temos seis meses até a próxima colheita, além disso estamos vendo a Ásia com muitos problemas de logística por causa de uma segunda onda de Covid-19 – o que pode recuperar preços eventualmente, e ainda que lentamente, o varejo e o consumidor brasileiros estão assimilando o novo patamar dos preços do arroz beneficiado”, explica.
Para o analista, o “braço” que pode forçar negativamente os preços daqui pra frente é o consumo, a demanda e a assimilação deste novo patamar pelo varejo – e o consumidor – e a quase ausência de novos contratos de exportações. “O mercado externo e o dólar ditaram o bom momento dos últimos quatro, cinco meses. Os desafios, agora, são manter a balança comercial equilibrada e torcer para que o mercado interno dê suporte aos bons preços da matéria-prima”, acrescenta.Outra informação que está correndo no mercado é a da importação, por uma grande empresa, de dois contêineres de arroz da Índia, cerca de 30 toneladas, já confirmada por agentes de negócios. O produto chega ao Brasil para ser testado em termos qualitativos. Outros traders e agentes nacionais também fizeram pedido de amostras na Tailândia e no Vietnã.
Um facilitador revelou esta semana que a confirmar-se a “falta de produto” no Brasil, conforme indica o mercado, há expectativa de que o país elimine a Tarifa Externa Comum, (TEC) de 12% sobre terceiros mercados. Isso daria competitividade, num primeiro momento, ao arroz asiático. E posteriormente ao grão dos Estados Unidos. “Não há interesse dos políticos, ainda mais em ano eleitoral e sob uma pandemia, com milhões de pessoas recebendo auxílio social, de que a cesta básica suba acima de alguns parâmetros de preços. Sem oferta interna, e com o Mercosul com oferta relativamente restrita, é natural que um governo cuja política economia é baseada no mercado e liberal, intervenha retirando a TEC e facilitando as compras para o abastecimento, de forma a equilibrar os preços e garantir a segurança alimentar”, informou o agente que preferiu não ser identificado. “O mercado não é estanque. Ele busca alternativas para se regular. No momento, a confirmar-se a falta de oferta – e disponibilidade, principalmente – a alternativa pode estar na importação de terceiros mercados. Pouca gente fala, mas as grandes empresas e traders já estudam a melhor estratégia”, completa o negociante.
Para Cleiton Evandro dos Santos, a busca de grão da Ásia – e até dos EUA – é possível, “mas se o passado nos trouxe lições importantes, uma delas é que no início dos anos 2000 fizemos grandes importações dos EUA e da Ásia, e isso gerou um caos no nosso mercado a ponto do governo federal ter que comprar grão a preço mínimo e carregar estoques acima de um milhão de toneladas. Não temos boas lembranças.
Para ele, ações no sentido de busca de amostras internacionais são mais preventivas, no sentido de aproveitar eventual oportunidade momentânea. “A menos que o Brasil inteiro esteja trabalhando com um quadro de oferta e demanda muito fora da realidade, ainda acredito que o momento do mercado está mais associado ao corte do fluxo, que poderá ser normalizado com o Mercosul e a busca de equilíbrio da oferta interna, do que em grandes compras em terceiros mercados. Me parece mais um ‘recado’, de alguns segmentos”. O analista considera que o governo está ciente da situação de dificuldade de boa parte dos rizicultores e tende a evitar uma liberação geral das compras. “Este, no entanto, é um cenário de possibilidades, que precisa ser analisado a seu tempo”, frisa.
EXPORTAÇÃO “PARA DENTRO”
O que Cleiton Evandro dos Santos confirma é a informação de que um volume importante de arroz em casca que havia sido comprado por tradings para exportação e ainda não tinha destino no Porto de Rio Grande, foi comercializado para indústrias nacionais. “Ou seja, a demanda está dando base para negócios em que o exportador comprou confiando em vender para o exterior e ainda ganhou dinheiro vendendo milhares de toneladas de arroz para indústrias que visam o comércio doméstico. Foi uma solução encontrada para o quadro atual e para as duas pontas do negócio”.
COTAÇÕES
O indicador de preços Esalq/Senar-RS fechou o mês de julho, sexta-feira passada, com alta acumulada de 8,43%, com a saca de arroz de 50 quilos (58×10), à vista, cotada a R$ 68,04 no Rio Grande do Sul. Pelo câmbio do dia, o valor equivale a US$ 13,05 e estava mais de 50 centavos de dólar acima dos preços indicativos equivalentes para o arroz norte-americano em setembro, na Bolsa de Chicago. “Considerando que há pouco mais de um mês a bolsa operava com preços futuros de US$ 23,65 para um quintal (45,36kg) e nós na volta dos US$ 11,00, é uma diferença de cenário bem acentuada”.
Segundo Santos, a venda antecipada dos estoques dos Estados Unidos, que os tiraram do mercado para novos contratos desde fevereiro, é o grande fator. “Tivemos a sorte desta sincronia de colher, e bem, quando os EUA tiveram uma quebra de 15% (cerca de 1,4 milhão de toneladas em base casca) aumento de consumo e liquidaram seus estoques – com preços bem competitivos – até fevereiro. Depois passaram o ano praticamente só carregando. Esse excedente no mercado teria impedido o Brasil de alcançar os resultados de vendas externas que alcançou nos últimos meses”, ressalta.
Informativo do Cepea/Esalq divulgado nesta segunda-feira, indica que no comparativo mensal, o Indicador, que fechou julho com média de R$ 64,67/sc de 50 kg, teve aumento de 4,43% em relação a junho/20 e de expressivos 50,11% frente ao mesmo período de 2019. Em termos regionais, também se verificou aumentos representativos no mesmo comparativo com o ano passado: 51,79% na Zona Sul; 50,11% na Fronteira Oeste; 49,24% na Depressão Central; 48,66% na Campanha e 48,45% na Planície Costeira Interna.
Os preços do arroz em casca seguem firmes no Rio Grande do Sul. Nesta segunda-feira, parte dos compradores elevou os valores ofertados, tendo em vista o ligeiro aquecimento nas vendas do arroz beneficiado. Alguns agentes, no entanto, indicaram que negociações envolvendo o produto acabado foram interrompidas pontualmente devido à menor oferta de matéria-prima e à consequente dificuldade de compra no estado. Assim, o Indicador do arroz em casca ESALQ/SENAR-RS, 58% grãos inteiros, com pagamento à vista, ficou estável (-0,11%) em relação ao fechamento de sexta-feira, encerrando a R$ 67,96/sc de 50 kg nesta segunda-feira.
MERCOSUL
No Mercosul, já iniciaram os trabalhos de semeadura no Paraguai, com as primeiras lavouras, mais ao norte e com maior influência do clima tropical, sendo semeadas. O USDA divulgou expectativa de um plantio de 168 mil hectares, com avanço de 3,7% sobre a área cultivada na temporada passada. Cerca de 70% das disponibilidades do país, referentes à safra 2019/20, quando foram colhidas 1,1 milhão de toneladas, já foram negociadas, restando pouco mais de 300 mil toneladas para comercializar e a preços competitivos, com boa demanda de empresas do Brasil Central.
O Uruguai ainda dispõe de pouco mais de 400 mil toneladas, com 60% de sua safra comercializada até o final de julho e a bons preços. A saca, no Uruguai, foi fixada a 10 dólares, provisoriamente, mas terá revisão dos valores em novembro, quando há o ajuste entre os preços internos e os referenciais de exportação. O país começa a plantar nos últimos dias de agosto, mas em raras áreas, e está com 80% da superfície prontas para cultivo. Parte das lavouras serão plantadas contando com água das chuvas de primavera. Outra novidade é que, em função da nova cultivar Memby Porá, da BASF e INTA, que tem alto vigor de arrancada, algumas propriedades uruguaias vão antecipar o plantio para o final de setembro, quando normalmente começam em outubro por causa das temperaturas mais baixas, similares às condições climáticas do extremo Sul gaúcho. A expectativa é de que a área uruguaia cresça de 3% a 5% nesta temporada, recuperando terreno depois de mais de 60 mil hectares de retração nos últimos anos.
A Argentina, tradicional exportador de segundo semestre, também tem volumes mais baixos, de cerca de 300 mil toneladas disponíveis, graças a um aumento acentuado no consumo interno – durante a grave crise econômica e o lockdown – e também teve boa demanda. Estima-se que o país esteja consumindo cerca de 550 mil toneladas, com estoque de passagem de 200 mil a 250 mil toneladas, frente a uma colheita de 1,24 milhão de toneladas e exportações totais de 450 mil t.
As áreas estão sendo manejadas para que o cultivo seja iniciado nos últimos dias de agosto, em especial nas províncias mais próximas do Paraguai, como Formosa e Chaco, cuja produção não passa de 20% do total argentino. A Província de Corrientes, separada do Rio Grande do Sul pelo rio Uruguai, representa 50% da produção do país de Maradona, que tem ainda Santa Fé e Entre-Ríos com produções intermediárias.
Os três países, que com o Brasil formam o Mercosul, apresentarão aumento de área, segundo o USDA, revertendo uma tendência de queda da última década. A Argentina deve aumentar 3,2% a área, de 186 mil para 192 mil hectares e colher 1,26 milhão de toneladas.
SAFRA
No Rio Grande do Sul, a expectativa é também de um aumento de área de 7,1%, para 1 milhão de hectares. Cerca de 75% da área passou por preparo antecipado e/ou sucessão com coberturas de inverno e/ou integração com pecuária, mas na Região Central ainda se encontra lavouras com as palhas remanescentes do corte, não incorporadas ao solo, o que exigirá manejo convencional nos próximos dias. A região costuma ser a última a semear por conta de dificuldades de acesso ao crédito, característica fundiária, de clima – com enchentes recorrentes na primavera, e o manejo que permite até três brotações de inços com controle mecânico ou químico a cada 15, 20 dias, antes de plantar a safra.
A grande limitação em algumas regiões gaúchas, em especial na Campanha e na Fronteira, e nas regiões que dependem de água das lagoas dos Patos e Mirim, é a disponibilidade de água para a irrigação.
Apesar do aumento do plantio em todo o Mercosul, acredita-se que a produção não deve se elevar de forma tão significativa, pois a temporada 2019/20 trouxe resultados recordes na maioria dos países. Sem a repetição de um clima tão favorável, em especial no verão, a média por hectare pode cair.
MERCADO
A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 71,00 para a saca de 50 quilos de arroz em casca no Rio Grande do Sul, com referência de R$ 150,00 para 60 quilos (branco, tipo 1) FOB/sem ICMS. Os quebrados e “derivados” seguem com preço estável, sendo o canjicão cotado a R$ 89,00 por 60 quilos, a quirera, no mesmo peso, em R$ 77,00 e o farelo de arroz a R$ 610,00 por tonelada.
PREÇOS AO CONSUMIDOR
As últimas semanas demonstraram que os preços médios ao consumidor seguem em alta nas capitais pesquisadas por Planeta Arroz, mas em percentuais de 2% a 3,5%, portanto, bem menores do que os atualmente indicados para o arroz em casca.
A média de preços gira entre R$ 18,00 (R$ 3,60kg) e R$ 19,00 (R$ 3,80) para o pacote de cinco quilos do tipo 1, branco, com as marcas que lideram o mercado entre R$ 21,00 (R$ 4,20/kg) e R$ 24,00 (R$ 4,80/kg), variedades nobres e tipos extra, seleção, etc… na faixa de R$ 25,00 (R$ 5,00/kg) a R$ 32,00 (R$ 6,40/kg), dependendo da marca e promoções de marcas mais “populares” na faixa dos R$ 14,00 (R$ 2,80/kg). Exceção para o interior gaúcho, que teve promoções abaixo dos R$ 13,00 na semana que passou (R$ 2,56/kg).
Uma curiosidade chamou a atenção de corretores e operadores de negócios. Ração para cachorro, a base de arroz quebrado, cotada entre R$ 15,50 (R$ 3,10/kg) e R$ 16,00 (R$ 3,20/kg) em supermercados, ou seja, com preço superior ao Tipo 1, branco, de algumas marcas em promoção.
A tendência é de que a queda de braço permaneça nas próximas semanas, mas com as cotações mais pressionadas pelos custos das operações de pré-plantio, busca de crédito junto às indústrias e vencimentos de custeio e dívidas parceladas de safras anteriores, além da dependência quase total da demanda doméstica para as cotações.
TENDÊNCIAS
A expectativa dos próximos dias se concentra nos resultados da balança comercial, no quadro de oferta e demanda que deve ser divulgado na próxima semana, e na intenção de plantio do Brasil e do Mercosul, mas principalmente o RS. O câmbio e o ingresso dos EUA no mercado internacional, com sua nova safra – que só deve acontecer no final de agosto – também são fatores de atenção. O que definirá os preços, no entanto, será a perda de forças de um dos lados – indústria ou fornecedor – na relação de oferta x demanda.
É importante citar, também, que há batalhas individuais travadas neste contexto. Não é apenas uma disputa por renda, mas o momento testa também o fôlego das indústrias de médio e pequeno porte para competir por matéria-prima com as grandes empresas e depois repassar este custo para o varejo. Um metro quadrado de gôndola precisa ser disputado centímetro por centímetro, assim como cada centavo de renda ao produtor e de assimilação de pagamento pelo consumidor. Equação complexa, em tempos de pandemia e depois de uma década em que o setor produtivo bancou o prejuízo, perdeu 250 mil hectares de área, mais de três mil agricultores e manteve a produção crescendo.
Fonte: ANÁLISE DE MERCADO – por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados – Planeta Arroz.
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